História e Tecnologia
Conteúdo
História e Tecnologia¶
Material para o Encontro Virtual 1, 27/10/2021
Nessa aula buscamos debater as definições de tecnologia, refletindo especialmente sobre a hbistória do conceito e suas implicações sociais.
Em seguida, vamos analisar os sentidos do termo História Digital, sua relação com os debates sobre tecnologia e buscar uma definção.
O que é tecnologia?¶

Os chimpanzés que usam ferramentas para tarefas complexas transmitem essas habilidades
BORGMANN, A. Technology as a Cultural Force for Alena and Griffin. The Canadian Journal of Sociology / Cahiers canadiens de sociologie, v. 31, n. 3, p. 351–360, 2006.
Mas o que é tecnologia? Em seu sentido estrito, é um conjunto de maquinarias e procedimentos. Tome seu exemplo mais recente? A tecnologia da informação. É hardware e software, concebido de maneira ampla. Do lado do hardware, há chips, discos, telas, teclados e cabos de fibra óptica. Tudo isso se estende para as máquinas de produção e mais para as usinas geradoras de energia e minas de silicato. O software é uma linha de código e se estende de um lado para os procedimentos de designers e programadores e, do outro lado, para os procedimentos que você segue para compor e enviar e-mail, checar o New York Times na Web ou projetar um página da web. Podemos chamar isso do sentido da tecnologia para os engenheiros.
O que interessa aos teóricos da sociedade é o efeito que esses mecanismos e procedimentos tiveram no nosso modo de vida. Os teóricos sociais estão interessados na tecnologia como uma força cultural. A tecnologia, nesse sentido, é amplamente utilizada na filosofia, nas ciências sociais e na mídia para capturar o que é distintivo da cultura contemporânea. (352-353)
É possível definir?¶
VERASZTO, E. V.; SILVA, D. DA; MIRANDA, N. A.; SIMON, F. O. Tecnologia: buscando uma definição para o conceito. PRISMA.COM, v. 0, n. 8, p. 19–46, 5 abr. 2009.
Na técnica, a questão principal é do como transformar, como modificar. […] A palavra tecnologia provém de uma junção do termo tecno, do grego techné, que é saber fazer, e logia, do grego logus, razão. Portanto, tecnologia significa a razão do saber fazer (RODRIGUES, 2001). Em outras palavras o estudo da técnica. O estudo da própria atividade do modificar, do transformar, do agir (VERASZTO, 2004; SIMON et al, 2004a). (p. 21)
Mas pq o artigo toma HOMEM como sinônimo de HUMANIDADE? E quais as implicações disso?¶
p. 22 = teoria do homem caçador
p. 23 = Homem = progresso.
Estava iniciada a odisséia do homem rumo ao progresso e ao desenvolvimento científico e tecnológico.
homem/homens = 36 vezes
humano(s)/humanidade(s)/humanas = 27 vezes
mulher/mulheres = 2 vezes
Texto assume o masculino como universal: “o homem”
Este artigo tem mais de 200 citações no Google Scholar. Ao longo do artigo “homem” é sinônimo de “ser humano”. Consequentemente, os “homens” são responsáveis pelo progresso tecnológico e intelectual.
Mulheres não!

Exatamente como demonstrado por [Caroline Criado Perez em _Invisible Women_](https://www.invisiblewomenbook.co.uk/).
É um artigo que exemplifica com precisão o argumento do livro: “masculino, a menos que o contrário”. E como que as mulheres são invisibilizadas nos dados e análises científicas.
O homem, ao descobrir que poderia modificar o osso, estabelecendo um novo uso para o mesmo, dava o passo inicial para a conquista do átomo e do espaço (VERASZTO, 2004) (26)
CONCEPÇÃO INTELECTUALISTA DA TECNOLOGIA (27)¶
As tecnologias derivam das reflexões teóricas científicas. Visão que hierarquiza ciência e tecnologia. Tecnologia seria apenas a aplicação ou consequência de teorias científicas.
CONCEPÇÃO UTILITARISTA DA TECNOLOGIA (28)¶
Tecnologia como sinônimo de técnica.
Ou seja, o processo envolvido em sua elaboração em nada se relaciona com a tecnologia, apenas a sua finalidade e utilização são pontos levados em consideração. (28)
CONCEPÇÃO DA TECNOLOGIA COMO SINÔNIMO DE CIÊNCIA (28)¶
Compreende a tecnologia como Ciência Natural e Matemática, com as mesmas lógicas e mesmas formas de produção e concepção. (28)
CONCEPÇÃO INSTRUMENTALISTA (ARTEFATUAL) DA TECNOLOGIA (29)¶
Entende a tecnologia como sendo simples ferramentas ou artefatos construídos para uma diversidade de tarefas. (29)
CONCEPÇÃO DE NEUTRALIDADE DA TECNOLOGIA (29)¶
tecnologia está isenta de qualquer tipo de interesse particular tanto em sua concepção e desenvolvimento como nos resultados finais. (29)
Essa visão reducionista da tecnologia impede sua análise crítica e ignora as intenções e interesses sociais, econômicos e políticos daqueles que a idealizam, financiam e controlam. (30)
CONCEPÇÃO DO DETERMINISMO TECNOLÓGICO (30)¶
Autônoma, auto-evolutiva, “desprovida do controle dos seres humanos”.
o progresso tecnológico segue um caminho fixo e, mesmo que fatores políticos, econômicos ou sociais possam exercer alguma influencia, não se pode alterar o poderoso domínio que a tecnologia impõe às transformações sociais (31)
CONCEPÇÃO DE UNIVERSALIDADE DA TECNOLOGIA (31)¶
o caráter universal das leis científicas leva a uma concepção de que a tecnologia não requer uma contextualização social, nem tampouco devem ser levados em consideração os caracteres valorativos, tendo em vista que a tecnologia, como sendo fruto do desenvolvimento científico, é neutra (32)
O caso do teclado QWERTY
OTIMISMO TECNOLÓGICO X PESSIMISMO TECNOLÓGICO (32)¶
SOCIOSISTEMA: UM NOVO CONCEITO DE TECNOLOGIA (33)¶
Em cada momento de desenvolvimento de um artefato tecnológico, especialmente quando este se consolida como produto, existe uma carga política concreta. (33)
Ciência, Sociedade e Tecnologia
As tecnologias, como formas de organização social, que envolvem o uso de artefatos ou certos modos de gestão de recursos se integram ao meio estabelecendo vínculos de interdependência funcional com outras tecnologias e diversos tipos de parâmetros sócio-econômicos e culturais. (35)
Definição¶
A tecnologia é uma forma de conhecimento.
O valor da pesquisa e da atividade tecnológica é o da utilidade e eficácia dos inventos e da eficiência no processo de produção (36)
a tecnologia é concebida em função de novas demandas e exigências sociais e acaba modificando todo um conjunto de costumes e valores e, por fim, agrega-se à cultura. E, apesar de fazer parte dos artefatos e dos produtos que nos cercam, a tecnologia é o conhecimento que está por trás desse artefato, não apenas o resultado e o produto, mas a concepção e a criação (37)
é um conjunto de saberes inerentes ao desenvolvimento e concepção dos instrumentos (artefatos, sistemas, processos e ambientes) criados pelo homem através da história para satisfazer suas necessidades e requerimentos pessoais e coletivos. (38)
a tecnologia engloba tanto seu aspecto cultural, que inclui metas, valores e códigos éticos, assim como possui um aspecto organizacional, que abrange a economia e as atividades industriais, profissionais, além dos usuários e dos consumidores (PACEY, 1983 apud LAYTON, 1988). A tecnologia não é uma mercadoria que se compra e se vende, é um saber que se adquire pela educação teórica e prática, e, principalmente, pela pesquisa tecnológica (VARGAS, 2001). (39)
Perspectiva da “Construção Social da Tecnologia”¶
BUCH, A. Actos, actores y artefactos: Sociología de la technología. Buenos Aires: Universiad Nacional de Quilmes Editorial, 2008, p.10.
É que, na verdade, não se trata de “suas tecnologias e você”, ou em um nível mais abstrato, a relação entre “tecnologia e sociedade”. Você é tecnologicamente constituído. Você é um ser tecnológico, independentemente de achar essa ideia agradável ou não. Porque as sociedades são configuradas tecnologicamente, exatamente no mesmo tempo e nível em que as tecnologias são socialmente construídas e colocadas em uso. Todas as tecnologias são sociais. Todas as tecnologias são humanas (por mais desumanas que possam parecer às vezes).
A dimensão tecnológica atravessa a existência humana. Da produção à cultura, das finanças à política, da arte ao sexo.
O engraçado é que, normalmente, refletimos pouco sobre a tecnologia. Ela passa despercebida, naturalizada como a chuva ou as ondas do mar. A tecnologia só se torna visível em dois momentos particulares: quando para de funcionar ou quando muda rapidamente. (10)
Não existe relação sociedade-tecnologia, como se fossem duas coisas distintas. Nossas sociedades são tecnológicas, assim como nossas tecnologias são sociais. Somos seres sociotécnicos. (12)
E a História Digital nisso tudo?¶
SILVEIRA, Pedor Telles Da. A arqueologia de um nome. In: História, técnica e novas mídias: reflexões sobre a história na era digital. Tese de doutorado. Porto Alegre: UFRGS, 2018. pp 28-62
Pensar sobre o termo história digital, sua história e relação com teoria e metodologia da disciplina.
A História Digital está presa na “narrativa de progresso técnológico”? (29)
“A história digital deve ser descrita como continuidade ou ruptura em ralação às práticas historiográficas anteriores?” (32)
“Seria a história digital um novo método, um novo campo de estudos ou uma renovação geral da historiografia?” (32)
Computador e internet = “queremos utilizar o computador, mas não sabemos como.” (33)
Quanto mais habituados a um objeto ou tecnologias mais bem sucedidas e consequentemente gastamos menos tempo refletindo sobre elas? (36)
A história digital está sempre na promessa de acontercer?
Está aprisionada pelo domínio das novas ferramentas e tecnologias?
Humanidades Digitais¶
seria marcada pela cisão entre teoria e prática? (39)
Imaginário em torno da computação:
Viesse para salvar as humanidades de si mesmas, o que não deixa de representar a crença na capacidade dos computadores realizarem aquilo que os seres humanos não podem fazer.” (43)
Computadores fazem arte. Fred Zero Quatro, 1996
O que muda com a proximidade entre historiografia e os computadores?¶
Breve histórico:
Década de 1940 e os modelos matemáticos
História Social quantitativa e cliometria dos anos 1960
A criação de softwares de análise de texto nos anos 1970
Após os anos 1990
As mudanças técnológicas, a transformação conceitual de como se concebe um computador (não apenas computar, “mas, agora, passíveis de inúmeros e variados usos”), transforma também a relação entre história e computação = daí a distinção entre a História digital e as práticas historiográficas que usavam computadores antes do advento da internet e da difusão dos compútadores pessoais.
Mais do que as Humanidades Digitais, que teriam um caráter muito mais relacionado com “a natureza computacional das ferramentas digitais” (48), a História Digital poderia “resgatar uma concepção mais tradicional do trabalho histórico” a partir do desencvolvimento tecnológico, “centrado sobre o narrar, o interpretar e o compreenser” (49).
Entretanto, na leitura de Pedro Telles, essa “realização ainda não foi inteiramente cumprida” (49).
História e a Internet¶
WEB 2.0 e os impactos na prática histórica:
Comunicação e divulgação para grande público;
Acesso a enorme quantidade de fontes documentais;
Diluição da hierarquia entre os profissionais e os demais agentes interessados na história.
A questão da técnica¶
Sistema técnico: “reunião de artefatos físicos, organizações sociais, leis e matérias-primas que condicionam o aparecimento das tecnologias” (53)
Mediação¶
“uma atividade que é realizada através dos computadores e que fornece o enquadramento para um mundo no qual a intersubjetividade é construída junto com o funcionamento dos aparelhos técnicos.” (59)
Há separação entre real e digital?¶
William Gibson (2010): “O ciberspaco […] colonizou o mundo físico” (59)
Perceber como as tecnologias digitais e as novas mídias são constitutivas da nossa experiência, das quais o cotidiano e apenas uma de suas manifestações (60)