BHUM0004 - Processos coloniais e a construção da modernidade

2020.2

Prof. Eric Brasil

Vídeo-aula: INSTITUIÇÕES E MÉTODOS DE ADMINISTRAÇÃO COLONIAL

2021-06-09

O papel das alianças na formação da Nova Espanha

RAMINELLI, R. Nobreza indígena da Nova Espanha: alianças e conquistas. Tempo, v. 14, n. 27, p. 68–81, 2009.


Alianças: papel fundamental para entendermos as conquistas

Cuidadosamente tramadas, as alianças entre Cortés e as chefias indígenas tornaram-se estratégias vitais para o avanço e a manutenção das conquistas em territórios nem sempre hospitaleiros. (69)

recorrendo aos intérpretes e às alianças, estavam então criadas suas principais estratégias para apoderar-se do posto ocupado pelo supremo senhor do México. (70)

Aliados conservam e expandem seus senhorios.

Anos depois, essa aliança [entre Tlaxcala e castelhanos] rendeu bons dividendos aos guerreiros de Tlascallan, sobretudo depois da morte de Moctezuma, pois, como mercê régia, puderam conservar e mesmo expandir seus senhorios. (70)

Por subordinar-se ao rei, os caciques ganhariam, em tese, a mesma distinção concedida aos leais vassalos da monarquia hispânica. (71)

Conversão religiosa, pagamento de tributos e lealdade à coroa: garantia de autonomia e posição social herdada.

Campanhas castelhanas:

viabilizada pela participação das chefias na conquista, pacificação e evangelização. em troca: presevar seus domínios, cobrar tributos, pedir mercês em terras, viajar a Madrid, direito a honras da monarquia.

Coroa espanhola reconhece a nobreza indígena e tenta reproduzí-la nos moldes do antigo regime.

Tais dádivas, conforme M. Menegus, consolidaram a nobreza indígena aos moldes do Antigo Regime. Desde o início, a Coroa reconheceu a nobreza indígena e “procuró reproduzir dentro de la república de Indios una sociedad jerarquizada acorde a la visión estamental del mundo medieval y moderno”. (72)

Reconhecendo este “ethos”, a Coroa castelhana viabilizou aos seus aliados a preservação da honra, dos privilégios, enfim, do sustento econômico e político das elites indígenas. (72)

Preservavam-se, assim, as hierarquias vigentes antes da conquista; ao mesmo tempo, as elites indígenas tornavam-se cristãs e vassalos do soberano de Castela. (72-73)

impacto economico entre as chefias: comércio, criação de gado e ovelhas e inclusive uso de escravizados negros.

os caciques exerceram atividades comerciais eminentemente espanholas e passaram a explorar ranchos de gado e a criação de ovelhas. Por vezes, encontram-se, nos documentos, registros de caciques que recorriam aos escravos negros para tocar seus empreendimentos. (73)

Relação entre caciques e conquistadores: costumes e usos da nobreza castelhana; domínio do espanhol e da legislação escrita.

De fato, a estreita convivência entre caciques e conquistadores viabilizou a rápida aceitação dos costumes e usos da nobreza castelhana. Os chefes locais logo se consideraram aristocratas, aos moldes do Antigo Regime, demonstrando mais afinidades com a elite espanhola do que com a gente de sua jurisdição. Esse processo acelerou-se com o bom domínio, falado e escrito, da língua espanhola e com as prolongadas estadias nas vilas e cidades. Em Oaxaca, a expressiva confirmação de títulos e possessões demonstra a familiaridade dos caciques com as leis escritas e com as subtilezas da legalidade espanhola. (73-74)

"República de Indios"

“Leis Novas”, de 1542, a Coroa pretendia separar a população espanhola da indígena e, para tanto, criou a República de Indios e a República de Españoles. (75)

Anos depois, sobretudo no governo do vice-rei Velasco, consolidavam-se os cabildos indígenas e a República de Indios. Em suma, a estrutura administrativa e jurídica anterior à conquista, aos poucos, deu lugar a governos indígenas, nomeados pelos espanhóis e não mais estribados na tradição. (75)

Princiais núcleos da colonização:

os pactos envolviam senhores indígenas, encomenderos, corrigidores e administradores, tanto locais quanto regionais. O equilíbrio de força demonstrou-se desfavorável aos chefes ameríndios e provocou sua debilidade política no controle das comunidades. (78)

Declínio das elites indígenas na virada para o 1600

Depois de pacificado o território e do estabelecimento da burocracia vice-reinal, os chefes perderam, em grande parte, o poder de negociar com os espanhóis e ficaram paulatinamente sem os privilégios, franquias e liberdades alcançados no início da colonização. Esta conclusão, referente ao caso andino, serve de forma convincente para entender o declínio dos cacicazgos da Nova Espanha. [...]

Na virada entre os séculos XVI e XVII, as epidemias, o desvio de trabalhadores para as propriedades espanholas, o declínio do repartimiento e o confisco paulatino de terras resultaram na alteração das elites indígenas da Nova Espanha. (78)

A relação da nobreza indígena com a administração colonial:

os estudos sobre a nobreza indígena evidenciam a preservação, em grande parte, de uma ordem social tributária da tradição mexicana, sobretudo em relação à República de Indios. Para tanto, os primeiros conquistadores e os administradores do vice-reinado recorreram fartamente às alianças com a nobreza local. A cobrança de tributo e a organização da justiça aproveitaram, em grande parte, da organização administrativa dos pueblos indígenas, da divisão do território entre cabeceras e instancías. (80)

vale indicar que a intervenção da conquista não atuou apenas sobre os chefes indígenas, mas também sobre conquistadores e encomenderos, ambos tiveram seus privilégios paulatinamente congelados e não herdados por seus filhos (80)

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